28.2.11

O Evangelho nas Selvas, por Fagundes Varela


Folheando O Evangelho nas Selvas ou Anchieta (1871-75), de Fagundes Varela, é curioso o passeio pelas páginas iniciais onde se estampam uma nota editorial e uma longa introdução. Essas páginas são marcadas pela melancolia que a recente morte do “poeta da simplicidade e da singeleza” impunha. E o tom das lamentações é bastante grandiloquente, com os exageros característicos da época. No final de uma das notas elegíacas do livro, deparamo-nos com essa verberação patética: “Eu não te lastimo, não. Invejo-te.” Pois, o autor da nota não lamentava o fim precoce do poeta fluminense, mas antes invejava sua sorte! Patético demais! Bem ao gosto... “Tão Brasil” – diria Mário de Andrade.



[a ilustração é pintura de Benedito Calixto, intitulada “Evangelho nas Selvas” (1893), na qual se vê a figura de Anchieta a pregar meio a selva selvagem; a edição de O Evangelho nas Selvas que consultei está disponível no site "brasiliana.usp.br"]

26.2.11

atitude de apaixonada escuta



Manuel Bandeira, em seu Itinerário de Pasásrgada – que revela muito do "itinerário em poesia" do seu autor –, conta como foi se aproximando da "ideia de que a poesia está em tudo – tanto nos amores como nos chinelos, tanto nas coisas lógicas como nas disparatadas". Logo nas primeiras páginas do Itinerário, Bandeira fala dos primeiros versos que teria percebido, dos contos da carochinha, da companhia paterna. E do pai aliás ouviu Bandeira uns versos que o impressionaram, versos que seu pai por sua vez ouvira de um homem que lhe viera pedir esmola. Seu Souza Bandeira, o pai do poeta, brincara com o sujeito: "Pois não! Mas você antes tem de me dizer uns versos." E o sujeito assim se saiu:








Tive uma choça, ardeu-se.


Tinha um só dente, caiu.


Tive uma arara, morreu.


Um papagaio, fugiu.


Dois tostões tinha de meu:




Tentou-me o diabo, joguei-os.


E fiquei sem ter mais meios


De sustentar os meus brios.


Tinha uns chinelos... Vendi-os.


Tinha uns amores... Deixei-os.





Como diz o poeta de Pasárgada, "décima lapidar, cujo primeiro verso, estropiado, mostra que a estrofe não é de sua autoria".



[a imagem acima é retirada de O Poeta do Castelo, curta-metragem de Joaquim Pedro de Andrade sobre o cotidiano e a poesia de Manuel Bandeira, que podem ser conferidos abaixo]




A tragédia de fazer ironias



Verdadeiro inventário de uma geração que findava, bússola de uma produção literária que começava. Assim podemos caracterizar O País do Carnaval, livro de estreia da profícua produção literária de Jorge Amado. A história de Paulo Rigger, o protagonista do romance, é o símbolo das "atitudes céticas" que supostamente haviam marcado a geração ativa durante os anos de 1920 no Brasil. A geração de Jorge Amado, de acordo com sua próprias palavras, chegava para combater as "atitudes céticas". Era o "projeto estético" que apresentava sinais de exaustão, deixando espaço para o chamado "projeto ideológico", que marcou o segundo momento do Modernismo (segundo a proposta interpretativa de João Luiz Lafetá, no seu importante estudo 1930: a crítica e o modernismo). O País do Carnaval é romance escrito pelo jovem Amado, então com 18 anos -- e talvez devamos pesar este dado na consideração dos defeitos e qualidades da narrativa. Como certa aparência contraditória que surge logo na "Explicação" posta antes da história de Rigger: Amado parece combater as "atitudes cética" com outra atitude cética, acreditando por exemplo que a "grandiosidade da natureza" e a "confusão de raças e sentimentos" que caracterizam a "formação do povo" no Brasil nos condenam à condição de palhaços, "de uma pequenez clássica". Vejamos o que Amado explica em sua "Explicação".






Diante da grandiosidade da natureza, o brasileiro pensou que isto aqui fosse circo. E virou palhaço...
Este livro pretende contar a história de um homem que, tendo vivido na velha França muito tempo, voltou à Pátria disposto a encontrar o sentido da sua vida.
Conta a sua luta, o seu fracasso. Conta a luta dos seus amigos, rapazes de talento, que falharam na existência.
Este livro é um grito. Quase um pedido de socorro. É toda uma geração insatisfeita, que procura a sua finalidade.
Nós já começamos a luta contra a dúvida. A geração que chega combate as atitudes céticas.
Este livro narra a vida de homens céticos que, entretanto, procuram uma finalidade. Tentaram alcançá-la. Uns no amor, outros na religião. O fracasso das tentativas não é prova da sua inutilidade.
Este livro pretende ser humano. Por mais que pareçam artificiais os seus heróis, eles vivem. Porque, procurando bem, até homens inteligentes se encontram no Brasil.
Mais do que humano, este livro tem veleidades de humanitário.
Cristo disse que se devia amar o próximo.
Acho que se deve ter amor aos semelhantes e uma grande indiferença feita de desprezo e de perdão, aos que não nos são semelhantes...
Eu não tenho veleidades literárias. Não pretendo fazer público com este romance. Não sou pornógrafo, nem jornalista de sensação.
Este livro tem um cenário triste: o Brasil. Natureza grandiosa que faz o homem de uma pequenez clássica.
A sátira, no Brasil, só a praticam os papagaios.
No Norte, terra da promissão, há uma grande confusão de raças e de sentimentos. É a formação do povo. E dessa confusão está saindo uma raça doente e indolente. E todo dia a natureza surra, com o chicote do sol, o nortista tragicamente vencido.
Este livro é como o Brasil de hoje. Sem um princípio filosófico, sem se bater por um partido. Nem comunista, nem fascista. Nem materialista, nem espiritualista. Dirão talvez que assim fiz para agradar toda crítica, por mais diverso que fosse o seu modo de pensar. Mas afirmo que tal não se deu. Não me preocupa o que diga do meu livro a crítica. Este romance relata apenas a vida de homens que seguiram os mais diversos caminhos em busca do sentido da existência. Não posso bater-me por uma causa. Eu ainda sou um que procura...
Eu quisera intitular este romance de – Os homens que eram infelizes sem saber porquê, – Mas a gente tem vergonha de certas confissões. E fica-se vivendo a tragédia de fazer ironias.
Os defeitos deste livro são a minha maior honra.

Jorge Amado
Dezembro de 1930.

22.2.11

10 poemas de Augusto dos Anjos


Eis a reunião de 10 poemas de Augusto dos Anjos, com uma pequena nota introdutória de Paulo Franchetti (retirada do site brasiliana USP). Os textos serão utilizados na disciplina Literatura Brasileira III, tendo o poeta paraibano encarnado contradições fundamentais do período Pré-Modernista.




16.2.11

Parâmetros Curriculares Nacionais (ensino médio): linguagens, códigos e suas tecnologias


Segue abaixo o endereço eletrônico que leva aos PCNEM. O documento em questão trata de outros conhecimentos, além da Língua Portuguesa, que não interessarão às discussões dos Seminários de Pesquisa Aplicada ao Ensino de Literatura Vernácula (HG 063). O trecho que interessa à disciplina vai até a página 24. Clique no link: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf
["A leitura" (1892), quadro do pintor brasileiro Almeida Júnior, ilustra esta postagem.]

15.2.11

Diretrizes e Bases da Educação Nacional




A Lei de Diretrizes e Bases (no. 9.394, de 1996), que estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional, encontra-se disponível no seguinte endereço: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf





[mestre Darcy Ribeiro, retratado acima, foi um dos relatores da LDB]

7.2.11

batismo mercantil


Oswald de Andrade chamou a atenção certa feita para o fato desta nossa terra ter recebido o nome do produto comercial que primeiro foi explorado pelos portugueses, o pau de tinta ou Pau Brasil. Isto já está no primeiro historiador desta América Portuguesa, Pero de Magalhães Gândavo, em sua História da Província de Santa Cruz (1576), na qual se pergunta:

"Porque na verdade é mais de estimar e melhor soa nos ouvidos da gente cristã o nome de um pau em que se obrou o mistério de nossa redenção que o doutro que não serve de mais que de tingir panos ou coisas semelhantas?"
[a ilustração é de Manuel de Araújo Porto-Alegre, um dos fundadores do romantismo no Brasil; a tela se chama Selva Brasileira]