31.1.11

letras usp download


encontrei hoje, enquanto buscava informações sobre o Ismail Xavier -- para quem não conhece, o mais interessante teórico e crítico do cinema brasileiro da atualidade --, uma página da Universidade de São Paulo que disponibiliza livre acesso a várias obras (livros etc.) de estudiosos conceituados, como é o caso do próprio Ismail. Vale a pena uma conferida no que está no ar. O endereço é este: http://letrasuspdownload.wordpress.com/
[a fotografia acima é de cristiano mascaro]

25.1.11

ps 1925


Em carta a Manuel Bandeira de 1925, uma das centenas que Mário de Andrade escreceu ao poeta de Pasárgada, encontro este ps curioso:


"Diga uma coisa. Como você acha melhor: Moçada se amando no imenso Brasil ou do imenso Brasil? Eu gosto mais do."


Não sei dizer a quê o Mário se refere, mas assim mesmo sem um sentido mais articulado, é bonito musical e sugestivo.
[o desenho de Mário de Andrade na rede é de Lasar Segall]

o brasil não é longe daqui



Só sendo brasileiro, isto é, adquirido uma personalidade racial e patriótica (sentido físico) brasileira, é que nos universalizaremos, pois que assim concorreremos com um contigente novo, novo assemblage de caracteres psíquicos para o enrequecimento do universal humano.


[o trecho acima é do Mário de Andrade, em carta a Manuel Bandeira; encontrei-o na Apresentação da poesia brasileira de Bandeira, ou seja, citado pelo próprio Manú (assim chamado em muitas das cartas de Mário); interessava-me comparar as passagens do estudo dedicados a Oswald e a Mário; a diferença é sensível, ficando patente a pouca simpatia (sempre respeitosa) do poetinha pernambucano pelo criador de Pau Brasil, o que não é surpreendente; o título da postagem é lembrança de um título de Flora Süssekind, livro que sempre me deixou curioso, inda agora curiosando estou; o retrato ao lado foi pintado por Portinari]

18.1.11

o homem do povo quer saber




Quem é o maior bandido vivo do Brasil?

17.1.11

evasão "para o mundo"



Procurando afinar a sintonia com a presença de Oswald de Andrade no percurso que o Modernismo realizou, fui ler algumas páginas de Manuel Bandeira. Aliás, pensava eu no decorrer da leitura quão esclarecedora é a aproximação entre produções literárias diversas, produzidas em tempos próximos: fica-se conhecendo a distância que há entre um e outro, as relações que escolheram desenvolver etc., além de passarmos a conhecer um pouco mais do poeta que se utilizou como referência aproximativa.
O que eu folheava de Bandeira (que Mário de Andrade chamou de o “São João Batista do Modernismo”) era sua Poesia completa e prosa, editada pela Aguilar (reimpressão da 4ª edição, 1983), na sua conhecida apresentação em papel bíblia (que apenas na semana passada pude adquirir, e ainda agora estou maravilhado com a aquisição). E comecei por conferir a introdução geral, que trazia um estudo de Sérgio Buarque de Holanda sobre a obra do poeta pernambucano de “Vou-me embora pra Pasárgada”. O texto de Sérgio (intitulado "Trajetória de uma poesia") é, como se poderia esperar, penetrante e informativo, e a mim trouxe esclarecimento sobre um aspecto crucial da poesia de Bandeira: a “evasão”. Sempre achei desfalcada a explicação dos manuais sobre este tema em Bandeira, acerca do qual o crítico e historiador paulista afirma andar “intimamente associada à sua [de Bandeira] maneira peculiar de exprimir-se e que, no caso, vale antes por um ato de conquista e de superação, do que propriamente de abdicação diante da vida” (p. 19). Imediatamente a seguir, Sérgio Buarque continua a tratar do tema, exercitando agora, também ele, a aproximação de figuras literárias díspares:

“Também não acredito, como o acreditou Mário de Andrade, num dos seus admiráveis ensaios críticos, que represente simplesmente uma cristalização superior do vou-me-emborismo popular e nacional, cujos traços podem ser discernidos através de nossa literatura folclórica. Em Bandeira ela tem sentido profundamente pessoal para se relacionar a uma atitude suscetível de tão extraordinária generalização. Seria talvez preferível ir buscar seu paralelo em exemplos singulares que pode proporcionar de preferência a literatura culta. E ocorre-me, no momento, o de uma peça das mais célebres de um grande poeta que viveu ainda em nossos dias: William Butler Yeats.
Todavia a aproximação, mesmo aqui, não pode ser feita sem extrema cautela. Em Sailing to Byzantium, o poeta, resignado à própria velhice, busca um mundo distante, onde os monumentos sem idade do intelecto não foram e não poderiam ser contaminados pela febril agitação ou pela música sensual das gerações presentes, e onde a própria vida se desgarra das formas naturais para assumir a feitura das criações dos artesãos da Grécia e assegurar a vigília do Imperdor:
[...]
Bizâncio é sagrado asilo, ‘artifício de eternidade’, inacessível aos tumultos vãos da humanidade mortal. Pasárgada é, ao contrário, a própria vida cotidiana e corrente idealizada de longe; a vida é vista de dentro de uma prisão ou convento.”


É o que o crítico chama, utilizando expressões do poeta, de evasão “para o mundo” – o que aliás condiz com o lirismo sórdido do poeta de A cinza das horas.

[o retrato de manuel bandeira que ilustra esta postagem é da lavra de candido portinari]

11.1.11

música incidental -- vinheta




analisando essa história


cada vez mais me embaraço


quanto mais longe do circo


mais eu encontro palhaço


[jards macalé cantando contrastes, música de ismael silva; as figuras aí do lado são das ilustrações dos fantoches da meia noite, do modernista di cavalcanti]

literatura e psicanálise


Meu caro primo,
Andava eu passeando pelas páginas de uma edição crítica de Iracema [preparada por Silviano Santiago], com pedaços de nossa última conversa ainda reverberando, e encontrei algo interessante. Logo nas notas ao “Prólogo da primeira edição”, Silviano aponta para o seguinte aspecto da criação literária alencarina:


Das constantes mais curiosas no texto alencarino é o fato de sempre usar o esquema metafórico /pai-filho/ para designar a ele, autor, e a seu livro, respectivamente. Já os textos mantêm entre si relações fraternas, pois na advertência a Ubirajara, escreve o romancista: “Este livro é irmão de Iracema. Chamo-lhe de lenda como ao outro.” Esse mesmo cuidado metafórico se encontra também no prólogo a Sonhos d’ouro, assinado por Sênio (pseudônimo do próprio Alencar) e que leva como título: “Bênção paterna”. O texto não pode circular sem a bênção do pai, assim como aqui, linhas acima, se preocupava o “pai” pela “sorte” do livro. Esse cuidado extremo pela sorte do texto (seu livro, dentro do esquema) redunda numa característica excepcional de Alencar: é o escritor brasileiro onde mais claro fica o desejo de sempre cercar, cercear, o caminho livre do texto, precedendo-o e seguindo-o de prefácios e posfácios, bem como protegendo-o com notas explicativas. É o caso de Iracema, O Guarani e Ubirajara, por exemplo. Assim sendo, torna-se difícil a livre interpretação do texto-filho, na medida em que o autor-pai se quer fazer “presente” no momento da leitura, acompanhando o texto de perto, com grande receio de que “seja recebido como estrangeiro e hóspede na terra dos seus”. Preferia Alencar, é claro, que ele ali encontrasse “a intimidade e aconchego da família”. [...]

E segue por aí afora. A nota me parece interessante e informativa, sugerindo possíveis caminhos de reflexão. E é muito curioso notar a presença forte do ‘esquema edípico’ [para o qual me faltam as palavras definidoras devidas] em muitos dos passos literários de Alencar. Fica pra depois uma nova conversa sobre. [...]

Um abraço
do Marcelo

9.1.11

cinema e literatura


venho de ver Rio, Zona Norte e tive a impressão de rever muito do percurso crítico do movimento que no Brasil estabeleceu a literatura chamada de modernista. Nelson Pereira dos Santos atualiza em seu cinema algumas linhas de força que fundamentaram os antecedentes e os desdobramentos da emblemática Semana de Arte de 1922. Mas é curioso por outro lado perceber a carga de neorrealismo que o filme comporta, criando uma divergência com a iconoclastia do primeiro momento modernista (1922-1930), apelidado de fase heroica, que teve na arte realista um de seus alvos mais constantes. [...]